Hall de entrada de uma casa em Ruinas na Vila de Sintra. Este passou a ser o seu local de habitação após diversas ameaças à sua integridade física por parte da Policia Municipal
Caixa de cartão espalmada para se assemelhar a uma cama. A manta que aqui está foi-lhe oferecida pelo ator Guilherme Leite que, após ter sabido do caso, viajou 40km numa noite chuvosa, para lha entregar. Usa também uma camisola dobrada como almofada
. A casa está em risco de colapsar totalmente. A água pinga por todos os cantos e, quando as chuvas e ventos fortes começarem, a mesma corre um grande risco de colapso
Durante o dia, permanece sentado no Largo Virgílio Horta. Sempre que se levanta, é possível ver tanto a Policia Municipal, como a GNR e PSP a rondar a sua atual morada diurna com vista a suprimir o seu caráter manifestante.
"Será necessário colocá-los na rua para que tomem conta deles?. Nas condições em que me encontro, preciso de um lugar onde estejam em segurança e, comigo, não tenho garantias nenhumas disso". Felizmente que a situação foi resolvida e agora, depois de um acordo com o staff, Manuel pode entrar quase de livre vontade para visitar as suas melhores amigas.
Após algumas querelas Manuel lá conseguiu que as suas três cadelinhas arranjassem um lar no Canil Municipal de Sintra. Aquando do divórcio, foram as únicas criaturas que permaneceram com ele. Não as abandona por nada e, todos os dias(quase sem exceção) encontra um lugar no seu coração altruísta e também cansado, para visitar as suas "princesas caninas". Aproveita quando lá está e interage também com outros animais; recebem-no melhor do que qualquer dignitário da Câmara.
"Nasci livre, vivi de pé e não morrerei de joelhos" O dinheiro que lhe é oferecido, bem como o RSI (189 euros) é distribuido de forma racional pelo dia-a-dia.
"Qualquer homem gosta de um copinho à refeição mas eu, nesta situação, não me posso deixar levar por tais luxos"- afirma que já lhe basta o viver na rua e que não precisa de atenção indesejada por parte daqueles que procuram uma desculpa para não ajudar.
Abdicou muitas vezes dos seus gastos para sustentar outros que também precisavam. Foi com um grande sentimento de frustração que notou que: "as suas prioridades eram outras". Quando se vê privado do seu sustento, dá graças à sua personalidade poupada e organizada por conseguir, aquando dessa situação, ir comprar ao mini mercado, bens de consumo indispensáveis à sua integridade física e psicológica.
No passado dia 26, três Policias Municipais abordaram o senhor Ildefonso afirmando que os seus pertences incorriam numa transgressão à lei por estarem a obstruir a via pública. Manuel, habituado a estas interações um tanto desconfortáveis, obedeceu à ordem e seguiu o acordo que tinha feito eles vão, informam, ele obedece até ao Comandante ver a sua ordem cumprida e depois retorna ao normal.
Pouco tempo depois e de acordo com o seu testemunho" rasgaram os cartazes que tinha no muro", e "o chapéu que tinha na mão foi partido"
O vídeo, disponível na TV Saloia, mostra uma detenção musculada e uma linguagem despropositada especialmente se tivermos em conta que o detido é um senhor de 64 anos e doente oncológico. Após a detenção que, de acordo com o mesmo se assemelhava a um "espetáculo" , fizeram-no subir a rua até ao Posto da GNR. ("ele estava sempre ao meu lado e ponha, de vez em quando, o pé à minha frente para ver se eu tropeçava"). Quando lhe foi pedido que se afastasse, o policia retorquiu que o estatuto de detido não oferecia quaisquer direitos e portanto, nenhum poder de decisão sobre a situação em que se encontrava.
Passada hora e meia e rezando para que todo aquela confusão se tivesse dissipado, desceu a rua para encontrar um ambiente tenso que se traduziu não só num retiro dos baldes com roupa ensaboada e comida enlatada, como de um kit de higiene indispensável ao seu dia a dia.
A queixa apresentada na GNR é a da Policia Municipal. Nenhuma queixa do lesado foi aceite.
Esta é a história de Manuel Ildefonso. Está já há 14 meses na rua após ter sido despejado de sua casa. Depois de ter pedido ajuda à Câmara Municipal de Sintra e ter sido ignorado todas as vezes, monta agora "tenda" no largo Virgílio Horta como forma de protesto. Deseja estar novamente com a filha com quem já não está há 2 anos. Como pai, diz-se desamparado e como ser humano, injustiçado.